sexta-feira, 30 de janeiro de 2009

Filmes do dia 24/01

Zézero
Ficção, 1974, 35 mm, P&B, 31 min

Um homem simples vive no interior, com sua família, leva uma vida pacata sem ambições, quando surge uma fada enrolada em películas, que lhe seduz, como uma sereia. Seu canto, é a propaganda da cidade grande, ela mostra para o pobre rapaz, tudo que a indústria cultural pode oferecer: dinheiro, mulheres, uma vida melhor. Hipnotizado, o Zé ninguém, parte para a metrópole e deixa sua família, quando ele chega na cidade grande, o rapaz encontra as dificuldades do emigrante, primeiro vive como pedinte, depois consegue um emprego na construção civil, pura miséria, lama e condições desumanas. Mas como todo brasileiro que nasce para liberdade e cresce para morrer, ele é crucificado pelo sistema, que lhe faz achar que o jogo é a solução. Ele começa fazer jogos de sorte, o dinheiro que sua família no interior mandava vai diminuindo, por conta da jogatina e da busca do prazer carnal com mulheres, que tanto ele sente falta. As cenas desta busca são extremamente fortes, ao mesmo tempo belas, onde o diretor, Candeias, inseri sons de cães raivosos, mostrando o primitivismo da busca do prazer, pago ou não. Quando finalmente, o personagem está sem um tostão, ele ganha na loteria e volta para sua casa no campo, chegando lá, ele descobre que toda sua família morreu. E como no começo do filme a fada surge, agora para lhe dizer o que ele deve fazer com todo aquele dinheiro.

Chamado pelo próprio diretor de um filme subterrâneo, Zé-Zero, nem foi levado para o departamento de censura, Candeias sabia que ia se fuder. Ele fala: “O Zé-Zero, tem a seguinte motivação: quando criaram a loteca, achei que era uma safadeza, o cara ao invés de comer a marmita, o ovo, o feijão com arroz, vai jogar na loteca. Achei isso muito mau. O governo abusa da ignorância dos outros, cuja ignorância, já é da responsabilidade dele, vai por aí a fora. Acontece que o Estado abstratamente e concretamente é o responsável por essas coisas todas”.




Aopção ou As rosas da estrada
Ficção, 1981, 35 mm, P&B, 87 min

Entre 1979 e 1981, Candeias realizou “A Opção”, que em seu próprio título (na grafia original que Candeias prefere) a sua síntese - “Aopção”, escritos juntos com o claro objetivo do autor de usar o prefixo “a” indicando “ausência de” ou seja, a falta de escolha, de liberdade, entendida aqui como tema central do filme, “ao qual se agregam outros mitos como a dignidade e a personalidade”. “As primeiras tomadas, no campo, já anunciam a origem e a atividade do grupo de personagens que será o foco da narrativa: trabalhadores rurais. E uma antevisão de uma delas do que será sua vida se ficar vivendo na roça (“ tirando água do poço, cozinhando, lavando roupa, casando, vendo os filhos sendo enterrados, vítima da miséria”) a leva a cair na estrada. Como diz uma música dos anos 70: “Caia na estrada e perigas ver”, uma atitude que no filme outras mulheres também tomam, mas aparentemente não tem nenhuma ligação entre si a não ser a tentativa de transformar ou modificar a vida, indo em busca da cidade grande. “As rosas da Estrada”, o outro nome deste filme, mostra explicitamente que o filme é quase um “Road Movie”, tudo se passa na beira da estrada. Candeias, sabe muito bem do que está falando, como ex-caminhoneiro, ele sabe os caminhos das pedras, até participa do filme, alimentando uma das rosas para que ela não murche. As mulheres caminham em linhas tortas, convivendo diariamente com brucutus, que a tratam como pneus. Destes brucutus viajantes das estradas, elas tiram seu sustento. Para elas o mundo é oval, duro, e cheio de perigos, mas a vida é uma. No final, só lhes sobram os pára-choques e poeira.

Nenhum comentário: