quinta-feira, 10 de setembro de 2009

As criticas que recebiam a Chanchada e o seu fim

Por Me Segura Qu'eu Vou Dar Um Troço

O fim dos filmes do gênero Chanchada está intimamente ligado ao surgimento da Tv no Brasil, que absorve seus atores e a comédia tão característica feita no cinema brasileiro, herdando a cultura do rádio que permeava o cinema popular. Não tendo mais tanta renda para se manter, as companhias cinematográficas vão se extinguindo, permanecendo os produtores independentes.

Os filmes do gênero Chanchada sempre incomodaram a elite e a intelectualidade, insatisfeitas por representarem o povo brasileiro nas telas do cinema. Este foi um dos fatores que as fizeram acabarem. Existia uma pressão muito forte sobre estes filmes. E as críticas eram muitas vezes estampadas em jornais da época: “‘Chega de Abacaxis’, ‘Degradam nossa cultura e impedem o surto de nosso verdadeiro cinema’. ‘Os decretos protecionistas em vez de abrir lugar para bons empreendimentos, apenas amparam a mediocridade’.
Para muitos dos críticos, com o fim da Chanchada, finalmente o cinema brasileiro acabaria com o amadorismo e começaria a produzir filmes de qualidade internacional. No momento de emitir juízos de valor estético sobre e qualificar/interpretar as comédias cariocas (‘baixo nível’, ‘humor Chulo’) carrega-se o peso de uma concepção oriunda da antiguidade clássica (Grécia) e que foi perpetuada ao longo da história do ocidente. Ao criar fronteiras, separando claramente os gêneros, esta faceta da tradição ocidental valoriza a tragédia ou o drama em detrimento do cômico. Pode-se perceber esta teoria observando o pensamento de Aristóteles, que constrói uma hierarquia privilegiando a tragédia em detrimento da comédia.

Os críticos sempre associavam a chanchada ao subdesenvolvimento e isto se tornou uma regra. Mas quando começaram a perceber a chanchada pelas teorias de Mikhail Bakhtin, mudaram a percepção que tinham sobre o cômico, pois a cumplicidade do público brasileiro com a chanchada demonstrou na verdade, um possível desejo de transformação social. Isto está ligado às idéias de M. Bakhtin, principalmente suas idéias sobre a carnavalização.

O carnaval na concepção de Bakhtin é mais do que uma festa, é a cultura opositora do oprimido, onde o mundo é visto de baixo, não tem distinção de rico ou pobre no carnaval, sendo totalmente igualitário. Invertendo a ordem dos valores, o mundo vira de ponta cabeça. O carnaval coroa e destrói, ele arranca de seus tronos monarcas e coloca hilariantes reis da bagunça em seus lugares, todas as distinções hierárquicas, todas as barreiras, todas as normas e proibições são temporariamente suspensas, estabelecendo-se um novo tipo de comunicação, não existindo barreiras para abordar outras pessoas e falar o que se pensa na folia. O carnaval, para Bakhtin, gera um tipo especial de riso festivo, constituindo um instrumento particularmente adequado para a investigação do cinema brasileiro, que sempre foi profundamente carregado de valores culturais associados ao carnaval.

As paródias sofreram vários preconceitos em relação à comédia, como forma “inferior”, em relação a trocadilhos e jogos de palavras eram considerados como a forma mais baixa de humor, em relação a palhaçadas físicas e pancadarias, eram consideradas grosseiras e vulgares e em relação ao público, popular de classe baixa. Percebe-se que esses preconceitos têm em comum a noção de alto/baixo, superior/inferior, que é percebido na teoria de Bakhtin sobre a carnavalização, ou seja, fazendo a associação do elemento paródico chanchada, na concepção da “carnavalização” de Bakhtin percebe-se que a paródia adapta-se bem às necessidades dos oprimidos e impotentes, exatamente porque assume a força do discurso dominante, só para aplicar essa força, através de um duro golpe artístico, contra a dominação.

Mantendo-se como filmes inofensivos ao mercado cinematográfico estrangeiro, os filmes da Chanchada que tinham como características elementos cômicos ou carnavalizados, não teriam seu poder de distribuição e exibição ameaçado, podendo ter uma grande divulgação e distribuição sem que sejam incomodados por ninguém. Imitação, avacalhação e degradação são alguns dos termos que se usava para desvalorizar os filmes da chanchada, garantindo um aspecto cômico da própria realidade brasileira. Essas referências reservam à linguagem da Chanchada uma relação com as festas populares, o circo, o carnaval, o rádio e o teatro de revista, que dialogaram com o cinema nacional, aprimorando o entendimento de uma cultura popular de massa, em torno de um modelo subdesenvolvido.

O filme “Carnaval Atlântida” exemplifica literalmente a idéia de carnavalização de Bakhtin, não só através do seu título, como também por meio dos seus procedimentos e referências fundamentais. Para se fazer um filme mais modesto e sem toda aquela pompa do filme “Helena de Tróia”, alguns personagens aconselham o diretor Cecílio B. De Milho, paródia do nome de um grande diretor hollywoodiano chamado Cecil B. de Mille, a abandonar o épico e a fazer um filme de carnaval.

terça-feira, 8 de setembro de 2009

O Começo do Cinema no Brasil e o surgimento da Chanchada

Por Me Segura Qu'eu Vou Dar Um Troço

O cinema brasileiro sempre teve uma característica, que foi a falta de uma consolidação, tendo várias fases, sempre caracterizadas pela invasão do cinema estrangeiro, o que contribui para o fracasso de público e investimentos dos filmes nacionais.

Uma destas fases, que souberam melhor lidar com esta invasão, foram os filmes mudos, entre 1908 e 1911, pois foi conseguido um melhor entrosamento entre o comércio de exibição cinematográfico e a fabricação de filmes, mais foi logo abafado pela invasão do cinema estrangeiro, principalmente americano. Com isso, todos os filmes brasileiros não tinham a mesma estrutura para competir em qualidade técnica com os filmes estrangeiros. Os profissionais que trabalhavam no desenvolvimento do cinema nacional voltaram para as suas profissões de origem ou ficaram desempregados. Mas este período ficou conhecido como a fase de ouro do cinema nacional, pois pela primeira vez se conseguiu construir realmente um modelo de mercado cinematográfico no país.

A popularidade do cinema no Brasil deve-se à influência do rádio, um meio de comunicação que desde 1922, já fazia parte da vida cultural do país, através das propagandas e, sobretudo, das transmissões de radionovelas. A popularidade que o rádio alcançou vai contribuir para o sucesso de público no cinema nacional, pois os cantores que cantavam nas rádios tornam-se atores. Os cantores aproveitavam os filmes para divulgar as músicas que seriam lançadas no carnaval. Embalados pelas atuações nos filmes, eles passaram a ter maior destaque na atividade artística, visando sempre um maior reconhecimento do público. Ao lado das falas cômicas e da música, o papel da dança foi decisivo tanto para a constituição do teatro de Revista quanto, mais tarde, para a chanchada. Em 1930, surge o estúdio cinematográfico, Cinédia, de Adhemar Gonzaga, influenciada pelo modelo hollywoodiano, o estúdio produziu várias comédias musicais (filmusicais), precursores da Chanchada.

No caso da Chanchada, pode-se atribuir ao fenômeno uma característica fundamental que identifica a estreita relação com o público de baixa renda, decorre daí a facilidade de criarem certos personagens como o faxineiro, o funcionário público que não vai trabalhar, o favelado, a empregada mulata, que é maltratada o ano inteiro e depois exaltada como símbolo sexual. Estes personagens, além de serem tipos com os quais o público se identifica, são partes do arsenal de linguagens que o carnaval propicia. Este tipo de tendência do cinema nacional, principalmente na chanchada, lembra muito o cinema “poeira”, que era feito nos Estados Unidos, onde o que importava para os produtores era o dinheiro, fazendo filmes precários e de enredo bem simples, pois o público que consumia era de baixa renda, o que ocasionava uma grande identificação com os filmes.

Existem várias definições para o que é a Chanchada. O diretor Watson Macedo, que realizou vários filmes neste período, não usa a Chanchada como termo técnico, mas apenas como recurso para diferenciar sua obra dos seus ideais, por exemplo, o filme dramático. Já Lulu de Barros, outro diretor, faz uma diferença entre a chanchada e a comédia, esta última seria algo de mais nobre e mais sério, que existe nos Estados Unidos e só de vez em quando no Brasil. Jean-Claude Bernardet localiza seus primórdios em 1900, quando ainda nem havia filmes de enredo no Brasil, ao passo que Carlos Manga, mais um diretor de filmes da chanchada, menciona 1949, como a data oficial do seu aparecimento. Conforme o historiador Rudolf Piper, na data entre estes dois extremos deve estar a verdade, sendo mais cauteloso ficar com a opinião de Regina Paranhos Pereira, que localiza entre 1929 e 1931, a época do surgimento deste gênero, com o filme “Acabaram-se os Otários” e “O Babão”. Esta opinião favorece São Paulo como iniciador de um fenômeno que mais tarde seria típico e exclusivamente carioca. A verdade é que a chanchada está intimamente ligada ao som, o que descartaria essas películas acompanhadas de gramofone e daria a honra à ‘Coisas Nossas’ de Wallace Downey.

Com isso, percebe-se que a Chanchada é um tipo de gênero cinematográfico tipicamente nacional, de enredos simples, além da técnica e linguagem bastante pobres, onde predomina o humor ingênuo, o burlesco, sempre com apelo popular. Sua influência vem do teatro de revista, teatro de comédia, representações ao vivo, que vão do burlesco ao musical da comédia de costumes ao show. As Chanchadas tinham muitos shows, com aspectos muito finos, tinham muitas confusões, sátiras às vicissitudes da vida diária, elevadas ao absurdo. Tinha namoros, caras e caretas e várias mulheres, além do humor pastelão.

Um dos elementos mais relevantes que caracterizaram os filmes da Chanchada foram as sátiras, e o grotesco paródico, onde eram explorados os instintos mais baixos, o exagero do absurdo e a cafonice, predominava o berro em vez da piada, substituindo a sutileza pela vulgaridade. Estes elementos são um dos grandes responsáveis pela forte crítica em relação à Chanchada. As sátiras faziam-se presentes nas mil confusões elevadas ao absurdo que aconteciam e funcionavam sempre bem, porque constituem cenas que o espectador gostaria de ver acontecendo de verdade. Existiam dois tipos principais de confusões: as atléticas e as que resultavam em briga, devido a mal entendidos.

O grotesco estava representado nas caretas de Zé Trindade e Derci Gonçalves, artistas dos filmes da Chanchada. Nas confusões que beiravam o ridículo, nas piadas de duplo sentido, nos excessos corporais que eram transformados em puro deboche, fazendo disso motivo de risada para o público. A obscenidade exagerada transforma em sujeira tudo o que poderia parecer inocente. Colocando na mesma cena, cantores de alto nível e baixo nível. Mas apesar de sua malandragem, tem também suas virtudes, quando destrói o que era para ser correto, quebrando o protocolo estabelecido.

A Paródia é a imitação cômica de uma obra qualquer por inversão ou rebaixamento das situações originais, ou seja, o cinema nacional não tendo as condições de fazer um cinema com a estrutura que era feito aos moldes norte-americanos, fazia filmes que criticassem não só a invasão do cinema estrangeiro como a falta de recursos cinematográficos do nosso país, ridicularizando temas hollywoodianos e outros, tidos como sérios. Uma cena de Carnaval Atlântida (1952) é exemplar: Um produtor de espetáculos pede ao roteirista um quadro sobre Helena de Tróia e coisas “gregas”. E o personagem interpretado por Grande Otelo apresenta-lhe uma atriz do teatro rebolado no lugar da Helena, que entra cantando, ao lado de “Blecaute”, cantor popular da época, uma marchinha de carnaval, seguido de um samba, entoado e dançado por bailarinas. A Grécia é simplesmente posta de ponta-cabeça.

No começo dos anos 40, surge a Empresa Cinematográfica Atlântida, até hoje sinônimo de Chanchada. Ela surge com um propósito diferente do cinema que estava sendo realizado, nasce com um compromisso de fazer filmes sérios, muito bem trabalhados em forma e conteúdo. É conseguido certo sucesso, no início, mas logo declinou nas bilheterias, por isso, sem escolhas para sustentar-se financeiramente apelam para os filmes musicais, voltando a conseguir sucesso. Isto está muito ligado à associação da Atlântida à poderosa cadeia de exibição de Luis Severiano Ribeiro, solidificando os interesses industriais e comerciais.

Além disso, em 24 de janeiro de 1946 entra em vigor o decreto Lei nº 20.493, que estabelecia a obrigatoriedade de exibição de um filme brasileiro a cada quadriênio. Essa legislação foi sendo alterada aos poucos. Com isso, os filmes da Chanchada foram os maiores beneficiados. Com o sucesso nas bilheterias, surgem produtores independentes, que saíram da própria Atlântida, para fazerem suas próprias produções, mas sem deixar de manter o mesmo estilo de enredo, mesmo a Chanchada enveredando para um lado mais crítico ao Brasil, em filmes como, “O Homem do Sputnik” e “Nem Sansão nem Dalila”, isso nos anos 50. Nesta mesma época, em São Paulo, era fundada a Companhia CinematográficaVera Cruz, uma companhia que surgia com uma proposta diferente da Atlântida, querendo fazer filmes mais sérios com um padrão de qualidade técnico de equipamentos internacionais, contratando profissionais vindos de fora do Brasil. Vislumbrou-se neste momento histórico, a possibilidade de se produzir um cinema de qualidade internacional.

Existia uma influência estrangeira grande nos filmes da Vera Cruz, com custos altos e lucros baixíssimos, as produções paulistas custavam dez vezes mais, além de descartarem o mercado nacional de cinema e não conseguirem sobreviver fora do país. Os únicos filmes rodado pela Companhia Cinematográfica Vera Cruz, que tinham as características da Chanchada eram os filmes de Mazzaropi. Ele estréia seu primeiro filme, intitulado, Sai da Frente, em 1952 e f i lma mais duas películas. Com as dificuldades financeiras da Vera Cruz, Mazzaropi faz, até 1958, mais cinco filmes por diversas produtoras. Naquele mesmo ano, vende sua casa e cria a PAM Filmes (Produções Amácio Mazzaropi). O primeiro filme da nova produtora é Chofer de Praça, que agora passa não só a produzir, mas distribuir as películas em todo o Brasil.

terça-feira, 28 de julho de 2009

Filme Surpresa

Logo após o filme Nem Sansão Nem Dalila, será apresentado um filme surpresa.

Filme do dia 01/08/09

Nem Sansão Nem Dalila

Brasil, 1954

Dir. Carlos Manga

Gênero: Comédia

Duração: 88 min.P&B

O barbeiro Horácio (Oscarito), sofre um insólito acidente e vai parar no Reino de Gaza, muitos anos antes de Cristo. Lá ele conhece Sansão cuja força descomunal vinha de uma “milagrosa” peruca. Ao trocar a tal peruca de Sansâo por um isqueiro, Horácio transforma-se num homem forte e poderoso, passando a reinar em Gaza como um ditador bonachão. Ao assumir o poder em Gaza, Horácio assume a postura e a retórica populista, fazendo uma direta referência ao presidente Getúlio Vargas. O passado e o presente fazem em Nem Sansão nem Dalila um engenhoso jogo de correspondências, que tem início com a metamorfose de Chico Sansão em Sansão, prossegue com a reencarnação do professor Incognitus no sábio de Gaza e só termina com a aparição de Wilson Grey (que encarnara o monarca que abriu as portas do poder para Horácio em Gaza) fazendo o médico que reabre as portas do real para o sonhador barbeiro do salão Dalila.

sexta-feira, 24 de julho de 2009

Filme do dia 25/07/09


Mulheres à vista
Brasil, 1959
Dir. J.B Tanko
Gênero: Comédia
Duração: 100 min. P&B



João Flores (Zé Trindade) tenta seduzir uma viúva rica para que ela patrocine o show de um grupo de artistas que está sendo enganado por um empresário desonesto. O show não pode parar. Nesta comédia verdadeiramente hilariante, o personagem de Zé Trindade se destaca, ele encarna um vigarista teatral que manifesta sua preferência por damas de grande porte (“Sou louco por mulher avantajada. Mulher pra mim, tem que ter de 2m 80 pra cima”), o que caia em sua rede era peixe. Dava em cima de senhoras e senhoritas, casadas ou solteiras, altas ou baixas, magras ou roliças, louras ou morenas, ricas ou pobres, por desejo ou por simples interesse. O objetivo de sua cantada na viúva rica, por exemplo, era puramente comercial. Foi, por sinal, nesse filme que Zé lançou um dos seus bordões mais populares: “O negócio é perguntar pela Maria”. Era perguntando por uma hipotética Maria que ele puxava conversa com as mulheres em sua mira. Em poucos minutos, elas se rendiam à sua avalanche de cantadas .

sexta-feira, 17 de julho de 2009

Filme do dia 18/07/09


Carnaval Atlântida
Brasil, 1953
Direção: José Carlos Burle
Gênero: Comédia

Duração: 95 min. P&B

Nenhuma outra fita do gênero brincou tão explicitamente com as labaredas da carnavalização, provocando a mais expressiva vitória simbólica do popular sobre o culto, da farsa sobre o épico, do esculacho sobre o solene e, como diria o professor Xenofontes, de Dionísio sobre Apolo, já consignada numa chanchada.
Xenofontes era um professor de mitologia grega, interpretado por Oscarito. Ele aparece pela primeira vez dando uma aula sobre o filósofo grego Zenão num colégio chamado Atenas. A molecagem, portanto, já começava na escolha do filósofo. Para o estóico Zenão, a finalidade suprema da vida não era o prazer, mas a virtude e a beatitude. Filósofo menos carnavalesco que Zenão impossível. No meio da aula, uma das alunas lança uma inesperada pergunta sobre Eros, a divindade grega do amor. O ajuizado Xenfontes quase perde o rebolado. Durante o resto do filme, Momo e Eros juntam suas forças para tirar do sério não apenas o professor bem como o projeto de um épico carnavalesco sobre a guerra de Tróia, acalentado por um produtor cujas aspirações artísticas não combinam com o seu nome: Cecílio B. de Milho (Renato Restier), paródia do famoso diretor de Holywood, Cecil B. de Mille.

sexta-feira, 10 de julho de 2009

Filme do dia 11/07/09


Aviso aos Navegantes
Brasil, 1950
Dir. Watson Macedo
Gênero: Musical
Duração: 113 min. P&B

Watson Macedo se inspira numa vertente de comédias que remonta aos irmãos Marx (vide Os quatro batutas/Monkey business, 1931) que estava em voga na segunda metade dos anos 40, através de Cante-me teus amores (Sing your way home, 19
45), Transatlântico de Luxo (Luxury liner, 1948). No cinema argentino, ela já havia dado cria catorze anos antes, em La muchachada de a bordo.
Numa casual homenagem ao pioneirismo do chanchadeiro portenho Manuel Romero, o transatlântico de Aviso aos navegantes vinha do rio da Prata. No final de sua rota, o carnaval carioca. “Gosto muito de Buenos Aires mas não posso ficar longe do carnaval”, comenta a personagem de Eliana, fazendo coro com o clandestino Frederico (Oscarito), louco para voltar a morar em Madureira, passear em Niterói e sambar a noite inteira. Em meio a números musicais de Emilinha Borba (Tomara que chova), Jorge Goulart (Sereia de Copacabana) e Quatro Ases e Um Coringa (Marcha do caracol), entre outros, Anselmo Duarte namorava Eliana, que era cobiçada por um falso príncipe (Ivon Curi), enquanto Grande Otelo ajudava Oscarito a manter-se escondido da tripulação e também longe do alcance das mágicas e dos gestos hipnóticos do professor Scaramouche, interpretado por José Lewgoy.



quinta-feira, 2 de julho de 2009

quarta-feira, 1 de julho de 2009

Mostra Chanchada: carnaval e subversão

O Cineclube Sanatório resgata a Chanchada, gênero cinematográfico tipicamente brasileiro de maior sucesso comercial e popular já visto no país. A Chanchada com seu humor ingênuo, muita música e paródias, lotou os cinemas brasileiros dos anos 30 aos 50, sendo responsável pela criação de um pensamento industrial para o cinema nacional, o que resultou na construção dos estúdios da Atlântida e posteriormente Vera Cruz. As Chanchadas comandadas pelos mestres da subversão Oscarito e Grande Otelo desbancaram os filmes americanos nas bilheterias do país, além de avacalhá-los na telona.

Massacrado pelo Movimento do Cinema Novo e literalmente chupado pela TV nos anos 60, os filmes da Chanchada se esgotam, mas, ressurge na essência da estética do cinema marginal.

Programação:

Sempre às 15:00 / LOCAL: Universidade Tiradentes / Campus do Centro / Bloco A, Sala 8

11/07 Aviso aos Navegantes/1950/ dir.Watson Macedo

18/07 Carnaval Atlântida/1953/ dir. José Carlos Burle

25/07 Mulheres à vista/1959/ dir. J.B Tanko

01/08 Nem Sansão nem Dalila/1954/ dir. Carlos Manga / Logo depois, filme surpresa.


Na Mostra, será lançado o Zine Sanatório 2


Aviso aos Navegantes

Brasil, 1950

Dir. Watson Macedo

Gênero: Musical

Duração: 113 min. P&B

Carnaval Atlântida

Brasil, 1953

Direção: José Carlos Burle

País: Brasil

Gênero: Comédia

Duração: 95 min. P&B

Mulheres à vista

Brasil, 1959

Dir. J.B Tanko

Gênero: Comédia

Duração: 100 min. P&B

Nem Sansão Nem Dalila

Brasil, 1954

Dir. Carlos Manga

Gênero: Comédia

Duração: 88 min. P&B

sexta-feira, 24 de abril de 2009

Ametistas em circulação

Por Lara Angélica
A represa e seus truques, a água e seus filetes, o canal e suas passagens. Saliências de contaminação serenando o túnel das impossibilidades. Há uma passagem secreta que vai dar num plano onde as dores habitam com ingenuidade. É lá que ficam à espera do silvo de um apito alienante, que suga a primeira da fila para um espaço de outra dimensão, onde vai parar no corpo de pele fina do humano aprendiz. Caminham sem mapa, bússola ou direção. Vão pisando leve, cegas de consciência, obedecendo a leis que desconhecem, seguindo um chamado que apenas indica o próximo passo. São ametistas se submetendo à função de atacar determinados pontos para culminar num caos orgânico. Não respeitam nem a vermelhidão imponente e escarlate do sangue que é a própria vida circulando pelo universo. Com a coagulação do invisível, o corpo está pronto para o primeiro choque de pontadas errantes e desconexas. Entra em erupção a imagem pálida de uma alma aprisionada nas correntes do castigo. Ninguém garante que seja um mal. Parece mais uma outra estrada para a cidade das flores lilás e preciosas. Depois de amanhã podem raiar luzes violetas da amenidade para abafar o escuro roxo de uma agonia. Só aguardando a temporalidade para compreender a gastura de um ontem que deixou rastros em um hoje duvidoso.

domingo, 5 de abril de 2009

TIRAS


Por Maicon Stooge




A MORTE:












segunda-feira, 23 de março de 2009

O Cinema Marginal no Brasil

Por Me segura qu'eu vou dar um troço
O Cinema Marginal absorve a influência tropicalista, da colagem, da “pop art” e do Kitsch, ou seja, toda a indústria cultural que estava em efervescência no momento. E toda a crítica irônica do bombardeamento da sociedade pelos objetos de consumo e os signos estéticos massificados da publicidade. Neste momento duas vertentes surgiram e se mostraram antagônicas. De um lado, aqueles que defendiam um cinema que fizesse concessões ao público e permitisse um diálogo contínuo. De outro lado, uma nova safra de diretores, como Júlio Bressane, Carlos Reichenbach, Rogério Sganzerla e Ozualdo Candeias. O Cinema Marginal como um movimento dentro da produção cinematográfica brasileira, teve início em 1967 com o filme “A margem” de Ozualdo Candeias e durou até 1975, o que coincidiu mais precisamente com a criação da EmbraFilmes, pelo Estado.

Ao contrário do movimento Cinema Novo, o Cinema Marginal não se define por uma coesão interna e tampouco seus membros se reconheciam como grupo. As origens dos diretores do ciclo marginal são bem diferentes. Suas preocupações principais sempre foram a subversão da linguagem cinematográfica e um amor pelo cinema que ultrapassou o ativismo político. Estes autores subverteram a prática cinematográfica realizada no Brasil, ao utilizar em seus filmes, narrativas fragmentadas e uma estética pouco refinada, influenciados por filmes do diretor Jean-Luc Godard, os neo-expressionistas americanos do cinema B e o deboche da Chanchada (daí o humor ausente por completo nos filmes do Cinema Novo anteriores a Macunaíma). E a literatura de Oswald de Andrade, Jorge Mautner, José Agrippino de Paula, a arte conceitual de Hélio Oiticica, a música popular, de Mário Reis à Tropicália, passando por Jimi Hendrix e o teatro de José Celso Martinez Correa.

A denominação “marginal” que o define foi talvez a forma mais apropriada encontrada por críticos para identificar certa harmonia em termos de estilo que, de certo modo, unia o grupo de jovens realizadores paulistas. O Cinema Marginal também era conhecido como cinema de invenção, “udigrudi”, cinema do lixo, cinema da boca, “underground”, marginalizado, experimental, maldito, mas apenas “marginal” delineia o sentido e a postura ideológica deste movimento que propõe rupturas com o processo de produção cinematográfico até então vigente no país.

À medida que o grupo do Cinema Novo entra em contradição no que diz respeito à liberdade do autor e a busca de ampliação de mercados de exibição, os autores marginais se distanciam deste e radicalizam seu discurso. Antes que se estabelecesse uma ruptura definitiva com o Cinema Novo, criando-se o experimental, pelo menos três jovens diretores de São Paulo, ligados ao surgimento do cinema marginal, tiveram a oportunidade de manifestar e documentar as suas sintonias com aquele movimento, um deles foi Rogério Sganzerla, realizador do filme: “O bandido da luz vermelha”, obra considerada ponto de transição entre o discurso do Cinema Novo e o Cinema Marginal. Pois o protagonista não é mais um personagem sertanejo e sim um homem urbano, aliás um homem que vivia no submundo de São Paulo, um marginal. Os filmes marginais saem da temática rural e vão começar a falar da vida na cidade e toda a cultura de massa influenciada pela tv que era febre neste momento no Brasil. O cafona e o kitsch (objetos populares) ou brega, são utilizados nos filmes para mostrar como seus personagens estão envolvidos na sociedade de consumo, conseqüentemente criticando-os por isso.

Pode-se notar que esta influência vem em parte muito ao que a Tropicália pregava incluindo o domínio da paródia, que vai totalmente de encontro à “Estética da Fome”, com isso nasce um desdobramento radical que vem a se chamar: “Estética do lixo”. No submundo dos personagens da Boca do Lixo, onde eram gravados os primeiros filmes marginais, o que impera é degradação social. Ali, câmera na mão e descontinuidade se alia a uma textura mais áspera do preto-e-branco que expulsa a higiene industrial da imagem e gera desconforto. Os marginais assumem um papel profanador no espaço da cultura e recusam o discurso da esquerda, optando pela agressão visual: sexo, luxúria, violência e pobreza. Os diretores “marginais” dialogam muito entre si por conta das temáticas escolhidas, que envolvem sexo, corpo, poder e um quê de “espetacularização” de tragédias sociais, avacalhação das misérias humanas, deboche e ironia da sociedade de consumo que eles se influenciam. Ou seja, ao mesmo tempo em que os filmes do cinema marginal são influenciados pela Indústria Cultural, é usada esta influência para se autocriticar, colocando a massa, e seus novos valores de vida como objetos descartáveis ou lixo.

Um dos filmes do cinema marginal que satiriza este tipo de situação é “Meteorango Kid, O Herói Intergalático” do diretor André Luiz Oliveira, no qual uma cena mostra a situação do cinema nacional naquela época, onde a indústria ditava o que o povo tinha que assistir e o que faria sucesso. Um jovem querendo ser cineasta vai a uma produtora cinematográfica para tentar conseguir um emprego, pois queria trabalhar na área. Conversando com o chefão da produtora, que fala para o jovem que já fez muitos filmes , tendo a fórmula do sucesso e sabe do que o povo gosta, ensina os “meios” ao jovem para conseguir atrair o público, ele fala que um filme tem que ter bunda, peito, um dramazinho e está pronto, para o sucesso, ou seja, a fórmula está pronta, e quem cria isto é a indústria, que impõe esta receita e quem não segui-la, nunca vai conseguir êxito. No caso do filme, se o jovem não se moldar à indústria nunca vai ter uma carreira como diretor.

quarta-feira, 11 de março de 2009

A Chanchada é o caminho!

por Me Segura Qu'eu Vou Dar Um Troço

Em tempos de cinema nacional cada vez mais com a cara de Hollywood, desde as suas superproduções aos festivais megalomaníacos, com tapetes vermelhos, percebemos que os filmes nacionais se renderam a certas estruturas dominantes. Até o primitivo Mojica, com seu personagem Zé do Caixão, está com um filme (Encarnação do Demônio) que faz questão de ser o “Jogos Mortais” à brasileira. Ai que saudade da nossa macumba.

Já dizia Paulo Emílio Sales: “O cinema brasileiro tem uma incompetência criativa em copiar”. Até hoje, a maioria dos filmes brasileiros são uma mera cópia do cinema estrangeiro, tentam se parecer e estão até conseguindo (este é o problema), retratando as diferenças sociais do Brasil com a linguagem do “Cinemão”, para conquistar o público. Com a procura incessante da “tal” competência, o cinema brasileiro copia Hollywood, mas cai na falta de criatividade. O cinema nacional está mais preocupado com uma indicação dos seus filmes ao Oscar, para isto, criaram seu selo de qualidade, a Globo Filmes, e propagam para o expectador, como se isso fosse o cinema nacional apto a fazer sucesso no exterior, tornando os filmes, no final das contas, a continuação de Hollywood. Por isso a Chanchada é o caminho do cinema nacional, não em sua forma de pensar como indústria, mas com a linguagem paródica, com a relação direta entre realizador e exibidor. Se é para copiar, vamos debochar. O bandido da Luz Vermelha é anárquico e profético quando diz: “Quando a gente não pode mudar, a gente avacalha e se esculhamba”. Não é a toa que o cinema marginal brasileiro tem uma grande influência da Chanchada, que surge entre os anos de 1929 e 1931 com “Acabaram-se os Otários” e “O Babão”. Era um tipo de gênero cinematográfico de enredos simples, além da técnica e linguagem pobres, onde predomina o humor ingênuo, o burlesco. Sua influência vem do teatro de revista, teatro de comédia, representações ao vivo, que vão do burlesco ao musical, da comédia de costumes ao show. Alguns dos elementos mais relevantes que caracterizaram os filmes da Chanchada foram as sátiras e o grotesco paródico, onde eram explorados os instintos mais baixos, o exagero do absurdo e a cafonice; predominava o berro em vez da piada, substituindo a sutileza pela vulgaridade. A paródia é o elemento criativo mais representativo deste gênero. Um dos gloriosos exemplos é a cena do filme “Carnaval Atlântida” (1952), onde um produtor de espetáculos pede ao roteirista um quadro sobre Helena de Tróia e coisas “gregas”. E o personagem interpretado por Grande Otelo apresenta-lhe uma atriz do teatro rebolado no lugar da Helena, que entra cantando, ao lado de “Blecaute”, cantor popular da época, uma marchinha de Carnaval, seguido de um samba, entoado e dançado por bailarinas. A Grécia é simplesmente posta de ponta-cabeça. A Chanchada, com seu tórrido elemento de subversão, se inspira, principalmente, na teoria da carnavalização de Bakhtin, quando o Momo vira rei, representando que os excluídos estão no poder e as pessoas não mais se distinguem umas das outras, há uma inversão de valores sociais. No caso do cinema, o rebaixamento de uma cultura dominadora ou de uma cultura erudita.

O que está faltando para o cinema brasileiro é assumir sua identidade, de um cinema pobre em recursos, mas repleto de boas idéias, e começar a criar obras criticas através do deboche. Os filmes brasileiros vão dar um tapa na cara da sociedade e restabelecer as pessoas na realidade em que elas vivem, indicando que a solução do cinema brasileiro é a sátira às condições que o país encontra-se, avacalhando o “cinemão”, não querendo fazer igual a eles, e sim, o nosso cinema, passando por cima de falhas de estrutura, interesses de terceiros e políticas culturais, que nunca dão certo. E para que não seja preciso procurar a estrutura hollywoodiana de realizar filmes, que sempre fracassou, desde a Vera Cruz, até hoje, na cidade de Paulínia ou em Aracaju, com propostas de escolas, querendo ensinar cinema, através de um olhar acadêmico ou seria hollywoodiano. E que venha este novo cinema, muito mais Ozualdo Candeias e menos Fernando Meireles.
Obs: Na foto acima, Oscarito e Grande Otelo, ícones da Chanchada.