terça-feira, 8 de setembro de 2009

O Começo do Cinema no Brasil e o surgimento da Chanchada

Por Me Segura Qu'eu Vou Dar Um Troço

O cinema brasileiro sempre teve uma característica, que foi a falta de uma consolidação, tendo várias fases, sempre caracterizadas pela invasão do cinema estrangeiro, o que contribui para o fracasso de público e investimentos dos filmes nacionais.

Uma destas fases, que souberam melhor lidar com esta invasão, foram os filmes mudos, entre 1908 e 1911, pois foi conseguido um melhor entrosamento entre o comércio de exibição cinematográfico e a fabricação de filmes, mais foi logo abafado pela invasão do cinema estrangeiro, principalmente americano. Com isso, todos os filmes brasileiros não tinham a mesma estrutura para competir em qualidade técnica com os filmes estrangeiros. Os profissionais que trabalhavam no desenvolvimento do cinema nacional voltaram para as suas profissões de origem ou ficaram desempregados. Mas este período ficou conhecido como a fase de ouro do cinema nacional, pois pela primeira vez se conseguiu construir realmente um modelo de mercado cinematográfico no país.

A popularidade do cinema no Brasil deve-se à influência do rádio, um meio de comunicação que desde 1922, já fazia parte da vida cultural do país, através das propagandas e, sobretudo, das transmissões de radionovelas. A popularidade que o rádio alcançou vai contribuir para o sucesso de público no cinema nacional, pois os cantores que cantavam nas rádios tornam-se atores. Os cantores aproveitavam os filmes para divulgar as músicas que seriam lançadas no carnaval. Embalados pelas atuações nos filmes, eles passaram a ter maior destaque na atividade artística, visando sempre um maior reconhecimento do público. Ao lado das falas cômicas e da música, o papel da dança foi decisivo tanto para a constituição do teatro de Revista quanto, mais tarde, para a chanchada. Em 1930, surge o estúdio cinematográfico, Cinédia, de Adhemar Gonzaga, influenciada pelo modelo hollywoodiano, o estúdio produziu várias comédias musicais (filmusicais), precursores da Chanchada.

No caso da Chanchada, pode-se atribuir ao fenômeno uma característica fundamental que identifica a estreita relação com o público de baixa renda, decorre daí a facilidade de criarem certos personagens como o faxineiro, o funcionário público que não vai trabalhar, o favelado, a empregada mulata, que é maltratada o ano inteiro e depois exaltada como símbolo sexual. Estes personagens, além de serem tipos com os quais o público se identifica, são partes do arsenal de linguagens que o carnaval propicia. Este tipo de tendência do cinema nacional, principalmente na chanchada, lembra muito o cinema “poeira”, que era feito nos Estados Unidos, onde o que importava para os produtores era o dinheiro, fazendo filmes precários e de enredo bem simples, pois o público que consumia era de baixa renda, o que ocasionava uma grande identificação com os filmes.

Existem várias definições para o que é a Chanchada. O diretor Watson Macedo, que realizou vários filmes neste período, não usa a Chanchada como termo técnico, mas apenas como recurso para diferenciar sua obra dos seus ideais, por exemplo, o filme dramático. Já Lulu de Barros, outro diretor, faz uma diferença entre a chanchada e a comédia, esta última seria algo de mais nobre e mais sério, que existe nos Estados Unidos e só de vez em quando no Brasil. Jean-Claude Bernardet localiza seus primórdios em 1900, quando ainda nem havia filmes de enredo no Brasil, ao passo que Carlos Manga, mais um diretor de filmes da chanchada, menciona 1949, como a data oficial do seu aparecimento. Conforme o historiador Rudolf Piper, na data entre estes dois extremos deve estar a verdade, sendo mais cauteloso ficar com a opinião de Regina Paranhos Pereira, que localiza entre 1929 e 1931, a época do surgimento deste gênero, com o filme “Acabaram-se os Otários” e “O Babão”. Esta opinião favorece São Paulo como iniciador de um fenômeno que mais tarde seria típico e exclusivamente carioca. A verdade é que a chanchada está intimamente ligada ao som, o que descartaria essas películas acompanhadas de gramofone e daria a honra à ‘Coisas Nossas’ de Wallace Downey.

Com isso, percebe-se que a Chanchada é um tipo de gênero cinematográfico tipicamente nacional, de enredos simples, além da técnica e linguagem bastante pobres, onde predomina o humor ingênuo, o burlesco, sempre com apelo popular. Sua influência vem do teatro de revista, teatro de comédia, representações ao vivo, que vão do burlesco ao musical da comédia de costumes ao show. As Chanchadas tinham muitos shows, com aspectos muito finos, tinham muitas confusões, sátiras às vicissitudes da vida diária, elevadas ao absurdo. Tinha namoros, caras e caretas e várias mulheres, além do humor pastelão.

Um dos elementos mais relevantes que caracterizaram os filmes da Chanchada foram as sátiras, e o grotesco paródico, onde eram explorados os instintos mais baixos, o exagero do absurdo e a cafonice, predominava o berro em vez da piada, substituindo a sutileza pela vulgaridade. Estes elementos são um dos grandes responsáveis pela forte crítica em relação à Chanchada. As sátiras faziam-se presentes nas mil confusões elevadas ao absurdo que aconteciam e funcionavam sempre bem, porque constituem cenas que o espectador gostaria de ver acontecendo de verdade. Existiam dois tipos principais de confusões: as atléticas e as que resultavam em briga, devido a mal entendidos.

O grotesco estava representado nas caretas de Zé Trindade e Derci Gonçalves, artistas dos filmes da Chanchada. Nas confusões que beiravam o ridículo, nas piadas de duplo sentido, nos excessos corporais que eram transformados em puro deboche, fazendo disso motivo de risada para o público. A obscenidade exagerada transforma em sujeira tudo o que poderia parecer inocente. Colocando na mesma cena, cantores de alto nível e baixo nível. Mas apesar de sua malandragem, tem também suas virtudes, quando destrói o que era para ser correto, quebrando o protocolo estabelecido.

A Paródia é a imitação cômica de uma obra qualquer por inversão ou rebaixamento das situações originais, ou seja, o cinema nacional não tendo as condições de fazer um cinema com a estrutura que era feito aos moldes norte-americanos, fazia filmes que criticassem não só a invasão do cinema estrangeiro como a falta de recursos cinematográficos do nosso país, ridicularizando temas hollywoodianos e outros, tidos como sérios. Uma cena de Carnaval Atlântida (1952) é exemplar: Um produtor de espetáculos pede ao roteirista um quadro sobre Helena de Tróia e coisas “gregas”. E o personagem interpretado por Grande Otelo apresenta-lhe uma atriz do teatro rebolado no lugar da Helena, que entra cantando, ao lado de “Blecaute”, cantor popular da época, uma marchinha de carnaval, seguido de um samba, entoado e dançado por bailarinas. A Grécia é simplesmente posta de ponta-cabeça.

No começo dos anos 40, surge a Empresa Cinematográfica Atlântida, até hoje sinônimo de Chanchada. Ela surge com um propósito diferente do cinema que estava sendo realizado, nasce com um compromisso de fazer filmes sérios, muito bem trabalhados em forma e conteúdo. É conseguido certo sucesso, no início, mas logo declinou nas bilheterias, por isso, sem escolhas para sustentar-se financeiramente apelam para os filmes musicais, voltando a conseguir sucesso. Isto está muito ligado à associação da Atlântida à poderosa cadeia de exibição de Luis Severiano Ribeiro, solidificando os interesses industriais e comerciais.

Além disso, em 24 de janeiro de 1946 entra em vigor o decreto Lei nº 20.493, que estabelecia a obrigatoriedade de exibição de um filme brasileiro a cada quadriênio. Essa legislação foi sendo alterada aos poucos. Com isso, os filmes da Chanchada foram os maiores beneficiados. Com o sucesso nas bilheterias, surgem produtores independentes, que saíram da própria Atlântida, para fazerem suas próprias produções, mas sem deixar de manter o mesmo estilo de enredo, mesmo a Chanchada enveredando para um lado mais crítico ao Brasil, em filmes como, “O Homem do Sputnik” e “Nem Sansão nem Dalila”, isso nos anos 50. Nesta mesma época, em São Paulo, era fundada a Companhia CinematográficaVera Cruz, uma companhia que surgia com uma proposta diferente da Atlântida, querendo fazer filmes mais sérios com um padrão de qualidade técnico de equipamentos internacionais, contratando profissionais vindos de fora do Brasil. Vislumbrou-se neste momento histórico, a possibilidade de se produzir um cinema de qualidade internacional.

Existia uma influência estrangeira grande nos filmes da Vera Cruz, com custos altos e lucros baixíssimos, as produções paulistas custavam dez vezes mais, além de descartarem o mercado nacional de cinema e não conseguirem sobreviver fora do país. Os únicos filmes rodado pela Companhia Cinematográfica Vera Cruz, que tinham as características da Chanchada eram os filmes de Mazzaropi. Ele estréia seu primeiro filme, intitulado, Sai da Frente, em 1952 e f i lma mais duas películas. Com as dificuldades financeiras da Vera Cruz, Mazzaropi faz, até 1958, mais cinco filmes por diversas produtoras. Naquele mesmo ano, vende sua casa e cria a PAM Filmes (Produções Amácio Mazzaropi). O primeiro filme da nova produtora é Chofer de Praça, que agora passa não só a produzir, mas distribuir as películas em todo o Brasil.

Um comentário:

Anônimo disse...

Eu sou amante dos filmes chanchadas da produtora Atlantida.Eu quero manter amizade virtual com outros amantes das chanchadas.Eu admiro Ze Trindade,Grande Otelo,Oscarito,etc.
O meu email marcondes14_3@hotmail.com