quarta-feira, 11 de março de 2009

A Chanchada é o caminho!

por Me Segura Qu'eu Vou Dar Um Troço

Em tempos de cinema nacional cada vez mais com a cara de Hollywood, desde as suas superproduções aos festivais megalomaníacos, com tapetes vermelhos, percebemos que os filmes nacionais se renderam a certas estruturas dominantes. Até o primitivo Mojica, com seu personagem Zé do Caixão, está com um filme (Encarnação do Demônio) que faz questão de ser o “Jogos Mortais” à brasileira. Ai que saudade da nossa macumba.

Já dizia Paulo Emílio Sales: “O cinema brasileiro tem uma incompetência criativa em copiar”. Até hoje, a maioria dos filmes brasileiros são uma mera cópia do cinema estrangeiro, tentam se parecer e estão até conseguindo (este é o problema), retratando as diferenças sociais do Brasil com a linguagem do “Cinemão”, para conquistar o público. Com a procura incessante da “tal” competência, o cinema brasileiro copia Hollywood, mas cai na falta de criatividade. O cinema nacional está mais preocupado com uma indicação dos seus filmes ao Oscar, para isto, criaram seu selo de qualidade, a Globo Filmes, e propagam para o expectador, como se isso fosse o cinema nacional apto a fazer sucesso no exterior, tornando os filmes, no final das contas, a continuação de Hollywood. Por isso a Chanchada é o caminho do cinema nacional, não em sua forma de pensar como indústria, mas com a linguagem paródica, com a relação direta entre realizador e exibidor. Se é para copiar, vamos debochar. O bandido da Luz Vermelha é anárquico e profético quando diz: “Quando a gente não pode mudar, a gente avacalha e se esculhamba”. Não é a toa que o cinema marginal brasileiro tem uma grande influência da Chanchada, que surge entre os anos de 1929 e 1931 com “Acabaram-se os Otários” e “O Babão”. Era um tipo de gênero cinematográfico de enredos simples, além da técnica e linguagem pobres, onde predomina o humor ingênuo, o burlesco. Sua influência vem do teatro de revista, teatro de comédia, representações ao vivo, que vão do burlesco ao musical, da comédia de costumes ao show. Alguns dos elementos mais relevantes que caracterizaram os filmes da Chanchada foram as sátiras e o grotesco paródico, onde eram explorados os instintos mais baixos, o exagero do absurdo e a cafonice; predominava o berro em vez da piada, substituindo a sutileza pela vulgaridade. A paródia é o elemento criativo mais representativo deste gênero. Um dos gloriosos exemplos é a cena do filme “Carnaval Atlântida” (1952), onde um produtor de espetáculos pede ao roteirista um quadro sobre Helena de Tróia e coisas “gregas”. E o personagem interpretado por Grande Otelo apresenta-lhe uma atriz do teatro rebolado no lugar da Helena, que entra cantando, ao lado de “Blecaute”, cantor popular da época, uma marchinha de Carnaval, seguido de um samba, entoado e dançado por bailarinas. A Grécia é simplesmente posta de ponta-cabeça. A Chanchada, com seu tórrido elemento de subversão, se inspira, principalmente, na teoria da carnavalização de Bakhtin, quando o Momo vira rei, representando que os excluídos estão no poder e as pessoas não mais se distinguem umas das outras, há uma inversão de valores sociais. No caso do cinema, o rebaixamento de uma cultura dominadora ou de uma cultura erudita.

O que está faltando para o cinema brasileiro é assumir sua identidade, de um cinema pobre em recursos, mas repleto de boas idéias, e começar a criar obras criticas através do deboche. Os filmes brasileiros vão dar um tapa na cara da sociedade e restabelecer as pessoas na realidade em que elas vivem, indicando que a solução do cinema brasileiro é a sátira às condições que o país encontra-se, avacalhando o “cinemão”, não querendo fazer igual a eles, e sim, o nosso cinema, passando por cima de falhas de estrutura, interesses de terceiros e políticas culturais, que nunca dão certo. E para que não seja preciso procurar a estrutura hollywoodiana de realizar filmes, que sempre fracassou, desde a Vera Cruz, até hoje, na cidade de Paulínia ou em Aracaju, com propostas de escolas, querendo ensinar cinema, através de um olhar acadêmico ou seria hollywoodiano. E que venha este novo cinema, muito mais Ozualdo Candeias e menos Fernando Meireles.
Obs: Na foto acima, Oscarito e Grande Otelo, ícones da Chanchada.

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